Deissy

Diagnosticada com Doença de Crohn desde o segundo semestre de 2013, foi um grande susto e ao mesmo tempo um alívio descobrir o que havia de errado com o meu corpo. Comecei com sintomas brandos no mês de maio, como presença de muco nas fezes e desconforto abdominal. Aos poucos os sintomas foram se intensificando, até ocorrer o primeiro sinal de sangramento e diarreias frequentes. Procurei um clínico geral e o médico disse se tratar de algum tipo de verme. Os exames não apresentaram nada, mas acabei tomando vermífugo. A partir desse dia o quadro só piorou. Depois de procurar duas vezes o pronto socorro, fui encaminhada para o proctologista.

Nessa época eu tinha 18 anos, estava no primeiro ano da faculdade, fazia curso de inglês, trabalhava como estagiária e acabara de terminar um relacionamento de três anos, ou seja, no auge do estresse que é a passagem da adolescência para a vida adulta. Era difícil manter o equilíbrio diante de tanta mudança na minha rotina. Muitas vezes eu sentia um cansaço extremo, me arrastava de casa para o trabalho, do trabalho para a faculdade e da faculdade para casa. Me sentia muito mal e muito triste, mas ao mesmo tempo havia uma força que não sabia de onde brotava (só podia ser de Deus).

Ao me consultar com a proctologista foi solicitado que eu realizasse o exame de Colonoscopia. O exame é bem constrangedor, e sem anestesia é bastante sofrido. Através do exame descobri o culpado de tamanho desconforto, a DII (mais precisamente Doença de Crohn). Como o meu intestino estava muito inflamado o exame não pôde ser finalizado devido ao risco de perfuração. Após o tratamento com medicações (os terríveis corticóides), sem surtir o efeito desejado, tive a primeira internação no final do mês de novembro e a segunda internação em dezembro, ambas no mesmo ano de 2013.

Eu tinha 1,67m de altura e cheguei a pesar 44kg, tinha crises de diarreia com sangue (uma grande hemorragia), ia ao banheiro cerca de 20 vezes por dia, dores de estômago, cheguei a vomitar sangue também, e estava com uma infecção. No hospital não conseguia tomar banho sozinha por estar muito fraca, só tomava líquidos e os remédios demoravam para fazer efeito. Os médicos não sabiam mais o que fazer ou no mínimo desconheciam como deveriam agir. E eu me sentia insegura, muito triste e com um medo devastador.

deissy capaApós a alta da segunda internação fui procurar um especialista em DII, o mesmo médico que realizou a minha primeira colonoscopia. Ele já havia pedido aos meus pais que o procurasse, pois tinha interesse em acompanhar o meu caso. Comecei o tratamento com novas medicações (imunossupressores e mesalazina) e apresentei melhora. Aos poucos fui recuperando o peso, mas as sequelas dessas crises me resultaram em uma forte anemia, com queda de cabelo, sono em excesso (onde encostava pegava no sono), fraqueza, cansaço extremo e desmaios repentinos.

Consegui o tratamento com suplementação de sulfato ferroso via intravenosa, e passava horas no hospital para tomar aquele soro duas a 3 vezes por semana. Ao me recuperar da anemia (segundo semestre de 2014), entrei com o tratamento biológico, e foi aí que a minha vida mudou, eu tive uma grande melhora. Desde então não tive mais crises intensas e entrei em remissão. As vezes sinto algum desconforto típico da doença aos quais consigo me adaptar e levo uma vida normal.

Por mais que estivesse doente, não permiti que isso impactasse o meu dia-a-dia, os meus sonhos - consegui terminar a faculdade com louvor, continuo no mercado de trabalho de acordo com a minha formação, finalizei todos os projetos que já estavam em andamento e tenho muito planos para o futuro. Já fiz várias viagens nacionais e internacionais. Nunca me privei dos sonhos, sempre adaptando as circunstâncias para que eu pudesse me encaixar.

Eu tenho o total apoio da minha família e de amigos queridos, tenho um relacionamento com uma pessoa incrível que me apoia e me entende mesmo nos dias ruins. Faço o acompanhamento médico nos períodos certos e tomo as medicações corretamente. Costumo dizer que: todos os dias é travada uma batalha contra o meu próprio corpo, e eu não me admito perder. Aprendi a valorizar mais a vida, as pessoas, a doença me trouxe também muitas coisas positivas. E vou continuar seguindo, na esperança de que um dia a cura possa fazer parte da minha/da nossa realidade.


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